Desmitificar o leite
O leite é um alimento com características nutricionais interessantes, já que fornece minerais (cálcio, fósforo, magnésio, potássio, zinco), vitaminas (B2, B12, A e, se for enriquecido, D) e proteínas de elevado valor biológico. Este último aspeto é importante, pois em relação à carne e ao peixe estas proteínas são baratas, o que é algo a ter em conta nos tempos que correm.
No século passado, as campanhas de promoção do consumo de leite multiplicaram-se, tendo - inadvertidamente - marcado o início do primeiro grande mito relativo ao leite: «o leite é um alimento completo».
Não há alimentos completos em alimentação humana, já que não podemos sobreviver saudáveis ingerindo apenas um alimento. Há apenas uma exceção a esta regra, o leite materno que - quando as mães são saudáveis e bem nutridas e têm bebés saudáveis - é completo, podendo ser o único alimento do bebé nos seus primeiros meses. A partir daí já não há alimentos completos.
Depois do primeiro grande mito, surgiu - sobretudo nos últimos tempos - um outro diametralmente oposto. Ouve-se dizer que o leite faz mal, que estamos a fazer algo errado ao beber leite, que determinada pessoa não pode beber leite pois um teste feito algures no estrangeiro (normalmente caro) diz que - a essa pessoa - é o leite que a engorda. A verdade é que muitos estudos indicam precisamente o contrário. O leite tem benefícios para a saúde, quer a nível ósseo, quer na redução do risco de algumas doenças (por exemplo, enfarte do miocárdio e obesidade). Estes benefícios podem estar relacionados com vários componentes do leite, sendo de salientar os minerais e compostos bioativos, como o ácido linoleico conjugado (CLA).
Há, de facto, pessoas que não devem beber leite nem comer alimentos que o contenham! É o caso de todos os que são alérgicos às proteínas do leite de vaca. Outra situação que pode limitar o consumo de leite é a intolerância à lactose (por falta da enzima lactase). Nestes casos, há várias alternativas: optar por derivados do leite (iogurtes, queijos), bem tolerados na maioria dos casos; por leites sem lactose; ou, em alternativa, por usar a enzima lactase quando se ingere leite.
Para além destes casos, não há razões para evitar o leite se gostar de o beber! Também não é obrigado a beber leite se não gostar deste alimento! Pode optar por iogurtes, leites fermentados e queijos.
É importante lembrar que os laticínios são um grupo importante na alimentação - se não fossem, não estariam na Roda dos Alimentos. É de salientar a importância deste grupo alimentar na satisfação das necessidades de cálcio. É evidente que há alimentos não lácteos que contêm cálcio, mas é muito mais difícil satisfazer as necessidades deste mineral sem os laticínios. Quem não consome laticínios pode continuar a fazê-lo, desde que esteja bem informado para evitar deficiências nutricionais, sendo aconselhável consultar um especialista em nutrição.
Resta falar do tipo de leite e da quantidade em que deve ser consumido. No que diz respeito à qualidade, a nossa escolha é determinante. Um adulto pode - e deve - optar pelas variedades magras. Quanto às crianças, devem - sensivelmente até aos 3 anos - optar pelo leite gordo, podendo a partir daí passar para o leite meio gordo. Quanto à quantidade - como seria de esperar -, o leite e seus derivados não devem ser consumidos em excesso nem em quantidades insuficientes. É sempre a mesma regra: com conta, peso e medida!