O testemunho da P.
A P. é uma guerreira. E escreveu uma carta que hoje pode ser lida por todos. Os testemunhos são importantes para quem os lê mas sobretudo para quem os escreve. Obrigada P!
"7 de Outubro de 2016, quase a fazer as malas as malas para mais um ano letivo na Guiné-Bissau…
Faz hoje 4 anos que tive a coragem, embora bastante tímida, de assumir que estava obesa, e que estava a perder qualidade de vida.
O contexto que tinha na altura pela frente, era num continente não muito longe, mas de contexto complexo, mas que na realidade se tornou positivo. Na realidade o contexto era apenas “uma desculpa”, pouco consciente, e pouco favorável para a minha condição física. Podia faltar muita coisa, ou não haver a diversidade a que estamos habituados por cá… Mas na verdade quem faltava, era eu…
Assim, numa curiosidade, e numa tentativa desesperada passeei-me pelo Google, na buscar de uma ajuda, e depreferência à distância. Foi nesse momento que conheci a Drª Ni. Alguém que conseguiu até hoje ajudar-me, mesmo quando eu própria já não consigo ou já não estou lá.
Destes quatro anos posso dizer que as vezes que acreditei, consegui… perder peso… perder volume… gostar do que via ao espelho… GOSTAR DE MIM! Mas neste mesmo período, também desisti de mim, deixei de acreditar e, engordei… não gostava do que via… e achava que o mundo estava contra mim… E APENAS EU, é que estava contra mim.
Os dois primeiros anos, foram brilhantes. Com altos e baixos, mas de grandes conquistas e muitas aprendizagens. O que podia ser uma dificuldade virou um desafio, e todos eles se foram superando. Como muita resiliência, mas assim era por lá, com quase tudo… Deixei África, faz dois anos. O regresso que deveria ser uma vantagem, foi um turbilhão de emoções, e esqueci-me de mim, e perdi quase a totalidade da conquista que tinha feito até então (recuperei quase os quilos todos). Pela simples razão que apaguei tudo o que aprendi, e o resultado foi péssimo.
Já no fundo do poço de novo, ganhei de novo coragem, e voltei a bater à porta que nunca esteve fechada, apenas eu é que me fechei para ela. E com muita vontade de voltar a encontrar aquele caminho, voltei à equipa que tinha abandonado. E de forma tímida, vagarosa, vou conseguindo de novo o caminho da perda, e de me sentir melhor comigo. E na verdade, esta vida não é uma dieta constante, é simplesmente as opções e as doses certas…
Este vírus, que foi e será o nosso grande desafio, não me veio estragar o foco. Superei-me, e mesmo fechada em casa, não fui tomada pela gula (algo muito comum em tempos anteriores). Diminui peso e volume… Saí sem grande expressão facial, já que a mascara tapa, mas melhor comigo mesma.
Ainda tenho um caminho para percorrer, e como diz a Drª Ni, isto está tudo ligado. Tenho o emocional a precisar de ser cuidado e tratado como merece. E claro gostar de fazer exercício físico, … Mas mesmo que não goste, tem de ser e tem… Ordens são ordens, mesmo que sejam democratas.
A equipa que constitui há 4 anos, foi a luz ao fundo do túnel, e todos os dias faz cada vez mais sentido…
Portugal, 7 de Outubro de 2020"