A minha história
Há anos que escrevo o blog. Sabem o meu nome, que sou nutricionista e hoje vou contar-vos um pouco mais da minha história.
Tenho peso normal (e “normal” é ter o peso certo), mas nem sempre foi assim, até à adolescência convivi com excesso de peso e depois de umas dietas malucas tive episódios de peso abaixo do normal. Consegui, a custo e graças a muita força de vontade e conhecimento, sair da montanha russa que é o efeito iô-iô. – e por isso sei muito bem o que sente o leitor, ou o que sentem as pessoas que me consultam, quando se entra no ciclo vicioso do engorda-emagrece-engorda-outra-vez. Sei o que é olhar para o espelho e não gostar do que se vê. Tal como muitos de vocês já tive uma relação complicada com a comida e com a balança. Sei o que se pensa, os sentimentos que nos avassalam, e sei que chega a doer. Sei o que é querer mudar e não conseguir. A frustração e a perda de confiança. Mas também conheço o sabor da vitória quando se consegue. E é esse sabor que quero passar em todas as crónicas, nas consultas, no meu blog ou no meu livro.
Sou nutricionista desde 2008. Muito antes de o ser lutei contra os vários quilos a mais. E a menos. E quero que conheçam a minha história e se lembrem que se eu consegui, também conseguem.
Nasci com quase 4 kgs, 3880g para ser mais precisa, e 48 cms. Era uma bebé muito fofa, dizem.
De bebé fofa passei a criança gordinha. Fui para a natação com 3 anos, embora só fosse permitida a inscrição a maiores de 4 anos, porque era grande! Lembro-me de vestir sempre roupa para meninas mais velhas. E de ficar triste com isso, momentaneamente. Depois passava e voltava a comer!
Era saudável, praticava desporto, aos 10 anos, além da natação fazia karaté mas não deixava de ser a mais gorda da turma. Não sentia nenhuma descriminação, nem fui vítima de bulling que agora tanto se fala, mas não me sentia bem com a minha figura.
Com 15 anos, mudei de escola, deixei a natação e cheguei a pesar 70 kgs distribuídos por 1,61 m. Quem teve excesso de peso na adolescência sabe que a autoestima pode ser afetada negativamente.
Por esta altura, decidi começar a experimentar várias dietas, mas assim que passava fome desistia. Alguma confiança perdida depois fui pela primeira vez a uma nutricionista, incentivada pelos meus pais. Pela minha própria experiência percebo que planos alimentares demasiado restritivos e rígidos simplesmente não resultam. Passei várias vezes pela frustração de pensar: eu não consigo, não consigo, não consigo.
No 11º ano, recomecei a fazer desporto, seguia um plano alimentar restritivo e consegui atingir o peso normal. Com 17 anos pesava 54 kg. Após esta fase diminuí mais as doses. Cheguei a almoçar uma maçã ou um iogurte, mentia em relação ao que comia, para tentar esconder os meus comportamentos – que já então pressentia serem errados.
Dos 70 kg passei para os 42 kg. Com 18 anos, foi-me diagnosticado um princípio de anorexia. Não via a imagem distorcida, via-me muito magra como realmente estava, sabia que estava com baixo peso mas gostava de estar assim. Embora soubesse que estava feia e que a minha saúde corria risco, sentia que manter-me com baixo peso me conferia uma espécie de super poder! Não, não conferia. Apenas era prova de que não sabia comer.
Com o apoio dos meus pais e do meu irmão, e de um excelente acompanhamento médico rapidamente superei esta fase. Quando entrei na faculdade para fazer o meu primeiro curso, Biologia Aplicada, pesava cerca de 52 kgs, peso esse que sofreu bastantes oscilações. Ora mais ora menos, entre os 48 e os 62. Fazia dieta, não fazia dieta, dias sim, dias não e dias talvez. E assim brincava com a minha saúde. Por esta altura, percebi que “quando fosse grande” queria ser nutricionista. Era uma área que me fascinava, e a minha luta constante com o peso teve obviamente influência nesta decisão. Ser nutricionista fez-me equilibrar, finalmente, a minha relação com a comida.
Quando entrei em Nutrição, na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), percebi que é fundamental seguir um plano simples e prático. Consegui manter o peso conquistado com uma dieta fácil de cumprir, com os alimentos de sempre e sem passar fome. Só consegui verdadeiramente perder peso e mantê-lo quando reaprendi a comer, quando me senti motivada e tive os conselhos certos.
Ao longo das últimas décadas têm sido acumulados erros em matéria de quantidade e de qualidade na ingestão de alimentos. A prevalência da obesidade tem aumentado assustadoramente, e com esse aumento surge o aumento da morbilidade (ou seja, doenças relacionadas) e mortalidade. Todos sabemos que o excesso de peso e a obesidade acarretam riscos graves para a saúde, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro e diabetes. Mas quantas vezes já desistiu de cuidar de si? Eu desisti algumas, mas fui a tempo de mudar. Quando a nossa saúde e felicidade está em jogo nunca é demasiado tarde. A altura certa é quando procura ajuda, tenha 10, 20 ou 50 anos. Tenha 4, 13 ou 30 kg a mais. Ou a menos.
Concentre-se em si. Por vezes estamos tão focados nos outros, em ajudar os outros, sempre os outros que quase nos esquecemos do que precisamos e do que nos faz feliz. Você é a sua prioridade, você merece o seu tempo e dedicação. Mas não basta querer, é preciso fazer acontecer. E por vezes precisamos de procurar ajuda.
Hoje uso a minha dieta, que funciona comigo e com a grande maioria dos meus pacientes. Manter o peso, ganhar auto estima, confiança e saúde sem alimentar altos níveis de ansiedade faz parte dos meus dias.
Vamos equipa!